Educação como bem humano e formação docente
por Raquel Oliveira
20 de agosto de 2020
Afirmar a educação como um direito humano, tal como referido pela Declaração dos Direitos Humanos (1948), nos dá a possibilidade de pensar que aquela comunga com as diferentes realidades de cada cidadão e cidadã. Isto significa que, todo e qualquer cidadão e cidadã tem capacidade de pensar sobre a sua condição humana e participar em sociedade na tomada de decisões.
Ora, se a educação não nos faz pensar sobre a nossa condição humana, sobre os fatos históricos que estamos vivenciando e a nossa ação laboral, esta educação não passa de uma simples reprodução e manutenção das relações de dominação quer no âmbito político, quer no âmbito social e cultural.
Paulo Freire em seu livro “Educação com prática da liberdade”, já afirmava que a educação deve dar a todas e todos os cidadãos o direito de pensar sobre a sua condição no mundo e não se conformar com os acontecimentos nele, como se os sujeitos fossem apenas expectadores acríticos dos fatos. Portanto, a educação ganha a sua importância a medida em que é capaz de mudar a realidade de cada sujeito, de contribuir para a sua humanização.
Entretanto, a medida em que a educação dá a possibilidade a cada sujeito de ser e estar em sociedade, aqueles que conduzem o processo de ensino precisam ser formados e capacitados a refletirem sobre a sua prática, numa conduta de ação-reflexão e ação, ou seja, a sua práxis.
O fato que é que, em matéria de estruturação dos cursos de formação docente, estes estão adaptados para atender as exigências curriculares que acabam por se alinhar com as necessidades do mercado de trabalho. Pouco se reflete sobre a prática do ensino, sobre os sujeitos que dela fazem parte.
O docente ao estar envolvido em um determinado contexto, no qual mantém uma relação reflexiva com a sua prática, pode transformá-la a partir da experiência. Ainda, Paulo Freire, em seu livro “Pedagogia da Autonomia”, já afirmava que o ato de ensinar é uma via de mão dupla. Isto significa que, por meio do ensino, o docente não transfere apenas o conhecimento, mas é capaz de transformar a sua prática ao refletir sobre ela. Aprende-se com a prática, aprende-se com os educandos.
Ser e tornar-se professor é bem mais que o aprender regras e métodos de ensino, é aprender também a situar-se como alguém que pensa, reflete e dialoga com o mundo. Este diálogo educador e educando, teoria e prática, conduz o docente a ter a consciência de sua ação inserida num determinado contexto histórico e social.
Então, pensar numa educação que humaniza e numa formação docente que promove uma reflexão sobre a ação, é ampliar as possibilidades para que todos os sujeitos sejam construtores de sua história. Freire em seu livro “Pedagogia do Oprimido” já referia que o homem é um ser transformador e criador na sua relação com o mundo, sendo capaz de produzir não apenas a sua força de trabalho mas também as instituições sociais, é pois, um ser histórico.
Raquel Oliveira é Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba. Mestre em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores e Doutora em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Tem desenvolvido estudos na área da Formação de Professores, Avaliação Externa de Escolas
portuguesas e da Educação inclusiva de alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) nas escolas de ensino regular. Os mais recentes trabalhos publicados estão na área da percepção da autoeficácia docente sobre a inclusão de alunos com NEE nas salas de ensino regular, educação inclusiva e práticas de colaboração entre os diferentes atores educativos.
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