Como escrever cartas de motivação?

por Maurício Vieira
06 de Outubro de 2020

Muitas vezes me perguntei em que circunstâncias as “cartas de motivação” – ou “cartas de apresentação” – foram incorporadas e exigidas como parte do processo de candidatura a empregos, estágios, bolsas de estudos ou qualquer que seja a candidatura. Embora minha pergunta permaneça sem resposta – até o momento para mim -, o fato é que esta tal carta se tornou o principal documento exigido nos processos de candidaturas em todo o mundo. O objetivo deste artigo não é, portanto, fazer campanha para decretar o seu fim, pois reconheço seu importante valor em identificar como racionalizamos e colocamos em palavras nossas aspirações pessoais e profissionais.

Porém, sou incisivo ao afirmar que escrever cartas de motivação não é uma tarefa fácil e, às vezes, é este documento o responsável por fazer muitos – e muitas – candidatos desistirem de concorrer a uma vaga. Além disso, eu diria: não existe um modelo oficial que possa guiá-lo para “a” carta de motivação perfeita. Cada carta é única e reflete seu nível de maturidade e como você percebe qual deva ser sua contribuição, seja na empresa ou na universidade. Portanto, motivado – propositalmente – pelo que mais me intrigou durante os anos em que escrevi incontáveis cartas de motivação, compartilho com vocês algumas dicas que costumo levar em consideração quando sou confrontado com o desafio de escrever essas cartas.

Primeiro, pergunte-se “PORQUÊ?”. Às vezes, é óbvio que você deseja aquele cargo ou aquela bolsa de estudos porque ambos refletem sua experiência, vocação, sonho profissional… No entanto, você deve desenvolver este raciocínio ao longo da carta. O “porquê”, no início, ajuda você a esclarecer para si mesmo o que mais lhe interessa em uma proposta de emprego ou bolsa de estudos e que esses interesses podem ser o gancho de que você precisa para desenvolver sua carta. O gancho pode ser uma área de pesquisa, uma habilidade específica que você adquiriu a partir de sua experiência profissional ou qualquer aspecto inovador que você também tenha aptidão.

Em segundo lugar, tenha em mente o propósito da sua candidatura. Neste ponto, os recrutadores e avaliadores querem saber qual deve ser a sua contribuição, bem como quais devem ser os benefícios da vaga e da bolsa para a sua carreira. Na minha perspectiva, o sucesso na candidatura não deve ser um fim em si mesmo, mas sim um processo de ganhos mútuos em que ambos os lados – candidato e recrutador – aprendem um com o outro. Neste sentido, é bastante comum ter que destacar nessas cartas seus valores, competências e habilidades. Esses valores variam de integridade, profissionalismo, respeito pela diversidade; e as competências refletem a forma como você trabalha, comprometendo-se com o trabalho em equipe, organização e responsabilidade com prazos, apenas para citar alguns.

Nesta fase, esteja atento para não replicar esses valores e competências como um check-list. A carta de motivação preza pela originalidade e, em alguns casos, criatividade demonstrada no ato da escrita. A questão, aqui, é o “COMO” você se apresenta por meio da carta de motivação e “como” esses valores e competências se encaixam perfeitamente a partir do que está expresso em seu currículo. Logo, o ponto forte da carta não é a reprodução do currículo em forma de texto, e sim, a forma como você narra sua trajetória destacando aprendizados, vivências e, em alguns casos, desafios superados.

Apesar de eu ter afirmado no início deste artigo de que não existe um modelo oficial para cartas de motivação, aconselho que sempre inicie a sua carta indicando à quem ela se destina. Escrevê-la numa lógica narrativa é outro ponto fundamental. E busque ser assertivo em apenas uma página. Não se trata de uma regra geral que garantirá o sucesso de sua candidatura, mas certamente será interessante para quem a ler.

Maurício Vieira é Doutor em Política Internacional e Resolução de Conflitos pela Universidade de Coimbra, Portugal; e Co-fundador & Diretor Executivo da Educação Global.

O artigo foi originalmente publicado em inglês no Mladiinfo.eu.

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